Quem se interessa pela rede Ethereum só se pergunta quando o Merge vai acontecer. Sem sombra de dúvidas esse é o questionamento mais comum em qualquer círculo de pessoas interessadas em Ethereum. E a reposta é mais simples do que parece: ninguém sabe.
Como já explicamos, o Merge é uma complexa atualização da rede pela qual o atual modelo de consenso Proof-of-Work será substituído por um modelo chamado Proof-of-Stake. Dizemos complexa porque além de tecnicamente desafiante, a rede Ethereum tem consistentemente processado mais de 7 milhões de transações por semana, há mais de 2 anos. Se uma analogia couber aqui, poderíamos dizer que atualizar a rede é muito mais do que trocar o pneu de um carro em movimento, é trocar o pneu de um carro de Fórmula 1 em movimento!
Até o final de 2021 era praticamente uníssono a referência a esse novo modelo de consenso, o Proof-of-Stake, como ETH 2.0, em uma clara referência a um modelo mais novo de algo que já existia - assim, a rede Ethereum que temos hoje seria a chamada ETH 1.0.
Entretanto, isso mudou no final de 2021, quando os principais desenvolvedores da rede substituíram essa terminogia pelas expressões “camada de execução” e “camada de consenso” - respectivamente, execution layer e consensus layer, em inglês. Em 14 de janeiro, o github da Fundação Ethereum (um repositório de dados utilizado por desenvolvedores) foi atualizado para fazer constar como um dos objetivos da Fundação para o primeiro trimestre de 2022 a adaptação da sua documentação para essa nova nomenclatura.
De maneira mais ilustrativa, essa alteração pode ser representada assim:
Eth1 → camada de execução
Eth2 → camada de consenso
Após o Merge: camada de execução + camada de consenso = Ethereum
Mas então de onde veio essa história de ETH 2.0?
A ideia da rede Ethereum utilizar um modelo de consenso Proof-of-Stake existe desde as origens da rede. Não foi por acaso que o próprio Vitalik Buterin abordou o tema em um artigo publicado ainda em janeiro de 2014 - isso mesmo há mais de 8 anos - antes mesmo do surgimento da própria Ethereum.
O que aconteceu é que se formaram dois grupos diferentes de desenvolvedores, cada um se dedicando a uma frente de pesquisa diferente. Enquanto o primeiro grupo se aprofundava nas formas de se expandir a rede sem que isso causasse prejuízos à descentralização o outro se dedicou mais a estudar como a blockchain poderia migrar para o modelo de consenso Proof-of-Stake.
Assim foi até que, em 2018, ambos os grupos se uniram e decidiram combinar esforços para o desenvolvimento da rede, o que ficou registrado no chamado roadmap para a “Ethereum 2.0” - em tradução livre roadmap é sinônimo de caminho.
Entretanto, os desenvolvedores perceberam com o tempo que aquele roadmap para ETH 2.0 demoraria muito tempo para ser concluído e que certas partes do projeto ficariam prontas muito antes do que as outras. Dito de outra forma, percebeu-se que aquele modelo desenhado no roadmap precisava ser repensado. Isso levou à novas propostas e novos debates entre os desenvolvedores - o que ficou registrado em artigos como “Integração antecipada” e “Relação de clientes ETH 1 + ETH 2”, disponíveis em inglês.
Paralelamente à esse debate se desenvolveram muitas pesquisas sobre RollUps, especialmente sobre como essa tecnologia poderia ser utilizada de forma segura e eficiente para otimizar a expansão da rede Ethereum. Lembra que esse era o objeto de pesquisa de um dos grupos de desenvolvedores?
A conclusão óbvia de um rodmap impreciso e de uma alternativa para a escalabilidade da rede fez com que os desenvolvedores decidissem por concentrar seus esforços em um objetivo comum alcançável: a migração para o modelo de consenso Proof-of-Stake, com o Merge.
Então não mudou nada! Por que mudaram o nome?
Primeira coisa para se ter em mente: toda essa história ocorreu entre desenvolvedores da blockchain. Isso mesmo, gente muito inteligente que na maioria das vezes não percebe que as pessoas em geral não acompanham o raciocínio deles. Então a mudança da nomenclatura não necessariamente vai fazer sentido para você. E está tudo bem.
O mais importante é que a mudança de ETH 2.0 para “camada de consenso” não altera em nada o roadmap da rede Ethereum.
O objetivo dos desenvolvedores com essa alteração semântiva foi deixar claro que com o merge não haverá duas versões da rede Ethereum, ETH 1.0 e ETH 2.0, “existirá apenas a rede Ethereum que todos conhecemos e amamos”. Ou seja, não haverá uma rede Ethereum baseada no consenso Proof-of-Work (camada de execução) e outra baseada no modelo Proof-of-Stake (camada de consenso) ; haverá uma mudança no modelo de consenso da blockchain, mas continuará existindo apenas uma rede Ethereum - em outra ocasião nós explicaremos por que existe uma blockchain chamada Ethereum Classic, mas não é disso que estamos falando aqui.
Em resumo, a principal razão para alteração do nome diz respeito ao modelo mental que se busca alcançar, evitando-se futuras confusões. Segundo artigo publicado pela Ethereum Foundation: “ao eliminar o termo Eth2, evitamos que nossos usuários futuros se sintam confusos”. É isso mesmo: toda essa confusão de nomenclatura aconteceu porque estavam tentando simplificar as coisas. rsrs
Além disso, a mudança tem um representação simbólica de mostrar que o roadmap da Ethereum se modernizou, que aquele modelo de ETH 2.0 não era mais adequado.
Outra preocupação externada pelos desenvolvedores é a prevenção a golpes. Afinal, pessoas mal intencionadas estavam utilizando o nome ETH 2.0 para enganar usuários desprevenidos, de modo a convencê-los a trocar seus ETH por uma suposto token ETH2. Nesse sentido, a alteração da nomenclatura tem o objetivo de trazer mais clareza ao que está acontecendo e tentar evitar que esse tipo de fraude aconteça.
Enfim, o mais importante é termos a noção de que Ethereum é uma tecnologia muito nova e que ainda está em constante desenvolvimento. Muitas mudanças ainda estão por vir e o que nos cabe, como entusiastas dessa tecnologia, é acompanhar o que acontece e tentar traduzir para uma linguagem cotidiana o que os desenvolvedores estão fazendo - o que nem sempre é fácil! rsrs
Esperamos que tenha ficado claro o por quê de não falarmos mais em ETH 2.0, mas apenas em Ethereum, atualmente camada de execução e, após o Merge, camada de consenso.
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Além das fontes diretamente indicadas nos links ao longo do texto, este artigo se baseou, principalmente, na seguinte fonte, em inglês: The great renaming: what happened to Eth2?